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A beleza de aprender a valorizar as pequenas coisa

  • integralizablog
  • 26 de jun. de 2023
  • 2 min de leitura

Em uma sexta-feira, acompanhada por minha colega de turma, em mais um dia de atendimentos na UBS, tivemos a oportunidade de conhecer seu Francisco (nome fictício).

Lavrador, 63 anos, que em sua aparência e em seu jeito de viver e falar me fez recordar a lembrança familiar do meu avô. O motivo do nosso encontro teria sido o retorno à consulta para trazer exames anteriormente solicitados por causa de uma dor difusa que sentia por todo corpo, principalmente nos ossos. Durante a conversa, boas risadas foram geradas; seu Francisco, um homem trabalhador que, mesmo imerso em dores, não deixava de acordar cedinho para “pegar a lida”, não abria mão do seu cafezinho com açúcar e se negava a ver a vida passar sentado, sem fazer aquilo que o fazia sentir vivo. Nessa consulta, solicitamos novos exames a fim de investigarmos mais profundamente seu quadro, e ele foi embora deixando em mim aquela sensação boa de quando conversamos com pessoas que nos fazem rever o valor das pequenas coisas, de pessoas que, mesmo na dificuldade, se negam a entregar os pontos e oferecem aquelas conversas que nos edificam e ensinam.

Semanas depois, pudemos ter o privilégio de receber novamente seu Francisco em uma consulta de retorno. Dessa vez, apesar de os exames não revelarem respostas conclusivas sobre o diagnóstico do seu quadro, a conversa tomou novos rumos. Assim, uma queixa de um possível infarto somada à suspeita de hipertensão e a um sopro encontrado no exame físico da consulta anterior ganhou um novo olhar. Com a orientação da professora, através de uma boa anamnese e um exame físico mais detalhado, descobrimos que seu Francisco apresentava sinais de uma possível cardiopatia. No exame físico, foi possível observar a presença de frêmito e sopro holossistólico e diastólico. Por isso, além de exames com o intuito de diagnosticar o porquê das dores difusas que seu Francisco sentia, também o encaminhamos para um especialista para realizar novos exames de saúde cardíaca.

E, mais uma vez, o encontro com o seu Francisco me ensinou.

Nesse contexto, vi que para ser uma boa médica, além de conhecer os passos de uma boa anamnese e exame físico e de saber diagnosticar uma doença, preciso ter uma boa escuta ativa.

Preciso saber ouvir o meu paciente além do padronizado. Preciso criar vínculo, ter um olhar humano e empático. Preciso aprender, assim como seu Francisco, a valorizar as pequenas coisas e, independentemente do que eu esteja passando, dar o meu melhor naquilo que me propuser a fazer. Preciso aprender a não aceitar viver sem fazer aquilo que me faz sentir viva.

Infelizmente, não conseguirei saber o desfecho diagnóstico de seu Francisco, mas queria deixar o meu agradecimento por nosso encontro, queria lhe dizer o quanto ele me ensinou. Obrigada seu Francisco, sempre irei lembrar com carinho do nosso encontro, você com certeza contribuiu para que eu seja uma profissional melhor, uma pessoa melhor.


Tássia Nayane Vieira dos Santos

 
 
 

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