Discussão: A mãe de todos os medos

A referida narrativa traz consigo a importância da dimensão espiritual na vida das pessoas, sejam elas o eu paciente e/ou o eu profissional assistente. Mas quais as evidências da importância dela?

Conforme Teixeira (2020) aborda,

o envolvimento espiritual está positivamente associado a indicadores de saúde física e, principalmente, mental dos pacientes [...]. Ela auxilia na adaptação psicológica ou enfrentamento (coping) de problemas de saúde, ajudando as pessoas a lidarem com uma grande variedade de doenças crônicas e situações estressantes: dores crônicas, doenças renais, diabetes, doenças pulmonares e cânceres [...] .Em pacientes portadores de câncer, por exemplo, ela está associada a níveis mais baixos de desconforto, ansiedade, hostilidade e isolamento social.

Durante o texto, o leitor pode se perguntar: “mas foi apenas um muito obrigado?” Daí, caro leitor, lanço mais outros diversos questionamentos...Será que não foi a simples conversa ou a simples atenção recebida por este paciente, como exposta pelo autor, que mudou seu coping naquele momento? Não é de hoje que sabemos o quanto os pacientes em paliação sentem-se solitários e “sem importância”, conforme Monteiro et al (2020) aborda; por ventura, durante uma simples avaliação mais completa do acadêmico, o paciente encontrou alguém pelo qual estava interessado em sua história e em “ouvir” o seu sofrimento, seja verbalmente, seja corporalmente...

“Uma boa conversa é terapia para aqueles que precisam”. 

Essa seria a intepretação ideal desta narrativa? De forma alguma, pois há diversas formas interpretativas dentro deste relato e, portanto, nada mais justo do que este texto apenas trazer um gatilho para uma reflexão sua.

Ademais, é importante aproveitar o discurso do medo e falar sobre a morte. O paciente em questão, já em cuidados paliativos, se encaixa nesta discussão. É fundamental definirmos a diferença entre a morte e o processo de morrer. A morte nada mais é do que a finitude da vida física como a conhecemos, enquanto que o processo de morrer encaixa-se em todos os contextos e situações ocorridas perante o momento antes da morte, sendo ambos os processos inerentes à nossa existência. Além disso, a morte, dependendo da cultura em que é avaliada, possui diferentes significados; um ponto em comum seria o fato de provocar uma enchente de sentimentos, seja em nós ou em nossos próximos, como a raiva, tristeza, negação e até a culpa.

Ao ler o texto, o autor cita, através de uma dúvida, o possível medo do paciente em relação à morte que, de fato, é impossível elucidar.

Nesse sentido, o que nos resta é sermos agentes facilitadores da qualidade de vida e minimizadores do sofrimento daqueles que mais precisam de nós naquele momento. 

A humanização médica é um processo relativamente recente e os cuidados paliativos vieram para mostrar ainda mais a importância de se oferecer aparatos mínimos, como a atenção integral e o cuidado durante o processo de morrer. Daí, surge mais um questionamento: será que uma boa e velha conversa, oferecida pelo acadêmico se encaixaria aqui? Talvez sim, talvez não... Para você, foi?

REFERÊNCIAS

TEIXEIRA, M. Z. Interconexão entre saúde, espiritualidade e religiosidade: importância do ensino, da pesquisa e da assistência na educação médica. Rev Med, n. 99, v. 2. São Paulo, 2020. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/149273/160273. Acesso em: 30 mar. 2023.

MONTEIRO, D. R. Percepções e sentimentos de pacientes em fim de vida: um olhar sobre os cuidados paliativos. Research, Society and Development, v. 9, n. 12. Porto Alegre, 2020. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/230693/001131593.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 30 mar. 2023.