Discussão: Me fez refletir
- integralizablog
- 16 de jun. de 2021
- 2 min de leitura
Qualquer encontro entre duas pessoas gera um movimento interno de ligação entre elas, seja essa ligação de qualquer intensidade ou valor (positiva ou negativa), pois inerente ao ser humano transferir sentimentos e expectativas a respeito do outro. Durante o processo terapêutico, no encontro entre médico e paciente, esse tipo de interação também é esperado e descrito como “transferência” quando se refere ao que vem do paciente e “contratransferência” quando se refere ao que vem do médico. O conceito foi primeiramente descrito por Freud, que o relatou como “falsa ligação” e explicada como uma internalização emocional e identificação com o que se vê e espera do outro. A transferência é um processo natural e esperado, em que os profissionais podem desenvolver algumas habilidades para diminuir o impacto dessas no processo de cuidado, mas a contratransferência exige vigilância constante por parte desses e técnicas de autoconhecimento e controle. No texto, quando a autora se pergunta “o que vejo nela que é meu?” é um exemplo de vigilância e exercício de autoconhecimento ativo realizado no momento da consulta.
Como é difícil manter a vigilância sobre seus próprios sentimentos e manter uma conduta imparcial sem distanciamento ou evasão da pessoa a sua frente, geralmente é necessário ajuda externa. A psicoterapia, nesse sentido de “supervisão”, semelhante ao que é feito entre psicólogos, pode auxiliar no processo de autoconhecimento e entendimento do que é despertado, das memórias adormecidas e das relações inconscientes que fazemos ao ouvir as histórias de vida de outrem. Outra modalidade, os Grupos Balints, realizados desde o século anterior, também são opções de estratégia de entendimento da contratransferência. Nestes grupos, supervisionados por um coordenador e realizados com técnica já bem descrita, os colegas podem apresentar visões de “ângulos” diferentes do mesmo caso e auxiliar no esclarecimento do que toca o médico e que pode atrapalhar o cuidado.
A transferência é um processo natural e esperado, em que os profissionais podem desenvolver algumas habilidades para diminuir o impacto dessas no processo de cuidado, mas a contratransferência exige vigilância constante por parte desses e técnicas de autoconhecimento e controle.
As narrativas médicas, como essa atividade proposta por esse blog, também são instrumentos de estudo das contratransferências e podem ser estimuladas desde a graduação, em que o aluno já se habitua a fazer uma análise das suas emoções e do quanto os atendimentos podem ter influência em sua vida privada. Dessa forma, ao passar de alguns anos, o médico em formação adquire a maturidade de perceber gatilhos no momento da consulta e pode agir para evitar suas interferências negativas.
É válido ressaltar que ferramentas de evitar a contratransferência é bem diferente de estimular o distanciamento e a “frieza” das relações. Afinal, é assumir que emoções estão envolvidas em qualquer interação social, inclusive as profissionais, e são essencial ao cuidado.
Equipe editorial Blog Integraliza
Referências Bibliográficas
ZAMBELLI, Cássio Koshevnikoff; TAFURI, Maria Izabel; VIANA, Terezinha de Camargo e LAZZARINI, Eliana Rigotto. Sobre o conceito de contratransferência em Freud, Ferenczi e Heimann. Psicol. clin. [online]. 2013, vol.25, n.1 [citado 2021-06-08], pp. 179-195 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php script=sci_arttext&pid=S0103-56652013000100012&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0103-5665.
BRANDT, Juan Adolfo. Grupos Balint: suas especificidades e seus potenciais para uma clínica das relações do trabalho. Rev. SPAGESP [online]. 2009, vol.10, n.1 [citado 2021-06-08], pp. 40-45 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702009000100007&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1677-2970
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