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Discussão: Quando a mente não descansa

  • integralizablog
  • 8 de abr. de 2023
  • 3 min de leitura

Historicamente, tanto na medicina quanto no senso comum, a concepção de saúde-doença tem sido focada quase que inteiramente na condição do corpo físico do indivíduo e as alterações orgânicas que poderiam trazer prejuízos para o corpo. Assim como descreve Barros (2008), a teoria microbiana passa a ter, já nos fins do século XIX uma predominância de tal ordem que, em boa medida, faz obscurecer concepções que destacavam a multicausalidade das doenças ou que proclamavam a decisiva participação dos fatores de ordem socioeconômica na eclosão delas.

Nesse contexto, a espiritualidade e as emoções são comumente esquecidas no que se refere à sua influência na saúde do indivíduo, principalmente em uma medicina que tem se tornado mais desumanizada, na qual o sujeito é reduzido a um conjunto de sintomas causado por problemas orgânicos. Entretanto, o corpo físico está intimamente ligado às emoções, sendo que um efeito físico pode ter efeitos mentais ou emocionais e vice-versa; portanto, uma mente que possui ideias prejudiciais pode afetar o corpo negativamente, acarretando o desenvolvimento de problemas de saúde. Por isso as emoções precisam ser gerenciadas com tranquilidade para conseguir afastar as doenças (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2001 apud GIMENEZ E BERVIQUE, 2006).

Mais especificamente no que se refere à espiritualidade, a OMS traz essa questão como um dos aspectos que devem ser observados no paciente e, consoante afirma o cardiologista Álvaro Avezum, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia:

“Hoje posso dizer com segurança a um paciente que se ele fuma, tem maior possibilidade de sofrer um infarto que um não fumante”, provavelmente, há de chegar um dia que com a mesma certeza poderemos dizer ao paciente que se for espiritualizado e souber lidar adequadamente com suas emoções, poderá evitar as doenças cardiovasculares”.

Além disso, vivemos um processo contemporâneo de constantes transformações do mercado de trabalho, o qual tem como uma de suas principais características a valorização excessiva da produtividade. Isso já repercute durante a formação profissional, visto que desde a faculdade as pessoas vêm sendo treinadas para corresponder a essa expectativa do mercado. Dito isso, há uma tendência a negligenciar nossas necessidades espirituais, nossas emoções e nosso ritmo de vida às custas dessa produtividade, gerando, como consequência da manifestação desse estilo de vida desequilibrado, sintomas físicos no nosso corpo, mesmo sem haver necessariamente uma causa orgânica.

Tendo isso em vista, a narrativa “Quando a mente não descansa” traz um claro exemplo de todos esses processos, já que temos um indivíduo aparentemente saudável com sintomas físicos secundários à sua vida estressante; isso, além do prejuízo emocional e espiritual, induz ao desenvolvimento de um estilo de vida não-saudável, com alimentação baseada em industrializados para compensar seus desequilíbrios emocionais. Sendo assim, cabe a reflexão: até quando vamos negligenciar a espiritualidade e as emoções como parte fundamental da nossa saúde? Queremos viver em uma sociedade doente com o único propósito de sermos apenas mais produtivos?

O desenvolvimento da espiritualidade e do controle emocional traz inúmeros benefícios para a saúde e o bem-estar, visto que saúde pode ser vista como:

“...a possibilidade de ter esperança e potencializar esta esperança em ação, constituindo-se num processo que diz respeito à convivência social e à vivência pessoal, sendo que as necessidades fundamentais ao desenvolvimento do homem, no sentido de alcançar a plenitude da saúde humana, são: o pensar, o agir, o imaginar e o amor. Conclui-se, assim, que para promover a saúde, não basta apenas ministrar medicamento sou ensinar novos conhecimentos e padrões comportamentais. É preciso atuar nas necessidades e emoções que mediam tais conhecimentos e práticas, isto é, na base afetiva do comportamento, tendo em vista a saúde/bem-estar e a Qualidade de Vida” (DEJOURS, s.d. apud MARTINS E MELO, 2008).

Por fim, é importante que nos adequemos às mudanças da sociedade e do mercado para sermos melhores profissionais, no entanto, para isso, é imprescindível que não desrespeitemos e sacrifiquemos nosso espírito e emoções. Vamos exercitar, desenvolver e respeitar o ritmo e o equilíbrio dos nossos corpos e espíritos, a fim de termos um melhor bem-estar e estilo de vida mais saudável.


REFERÊNCIAS

BARROS, José Augusto C. Pensando o processo saúde doença: a que responde o modelo biomédico?. Saúde e sociedade, v. 11, p. 67-84, 2002. Acesso em: 31 mar, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/4CrdKWzRTnHdwBhHPtjYGWb/


GIMENEZ, Rosane Montefusco; BERVIQUE, Janete de Aguirre. Relação entre as emoções e o organismo como um todo. Revista Cientifica Eletrônica de Psicologia, Garça/sp, v. 7, n. 4, p. 1-6, 2006. Acesso em: 31 mar, 2022. Disponível em: http://www.faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/ri4hKpL8RTl9wi8_2013-5- 10-15-32-13.pdf


MARTINS, Maria da Conceição; MELO, Jorge Manuel. Emoção… emoções… que implicações para a saúde e qualidade de vida?. Millenium, p. 125-148, 2008. Acesso em: 31 mar, 2022. Disponível em: https://repositorio.ipv.pt/handle/10400.19/365


TONIOL, Rodrigo. Espiritualidade que faz bem: Pesquisas, políticas públicas e práticas clínicas pela promoção da espiritualidade como saúde. Sociedad y religión, v. 25, n. 43, p. 110-146, 2015. Acesso em: 31 mar, 2022. Disponível em: http://www.scielo.org.ar/scielo.php?pid=S1853- 70812015000100005&script=sci_arttext&tlng=p

 
 
 

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