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Discussão: Sobre cuidar

  • integralizablog
  • 12 de abr. de 2023
  • 2 min de leitura

O relato versa principalmente sobre o sentimento de impotência da estudante diante de situações complexas de vulnerabilidade de muitos pacientes. De fato, a Atenção Básica é um dos principais serviços frequentados por cidadãos em contexto como tal, devido à disposição territorial do serviço – caracteristicamente capilar, presente nos mais diversos cantos e interiores do país. A realidade social escancarada e cuidada pela Atenção Primária revela a própria essência do SUS: aumentar a acessibilidade ao serviço, em outras palavras, tornar claro que todos são igualmente dignos de receber cuidados à visão do Estado.

O SUS, porém, não foi criado para resolver todos os problemas populacionais. E nem consegue, embora receba uma carga inestimável de problemas sociais, emocionais e biológicos que acompanham os pacientes e neles causam sofrimento. Isso porque atende pessoas, no sentido “ser humano” da palavra, que não podem ser dissociadas de seu contexto. Sob tal ótica, estudantes e profissionais da saúde – particularmente médicos – tentam, junto aos pacientes, cuidar dos adoecimentos, vulnerabilidades e riscos destes, sejam quais forem, tornando perfeitamente possível e válido o sentimento de impotência frente a múltiplas situações complexas.


Conforme Ayres et al (2019), o determinante “vulnerabilidade” pode ser dividido em 3 escopos: a vulnerabilidade individual (características biológicas, comportamentais e afetivas do indivíduo que o susceptibiliza para algum agravo à saúde), vulnerabilidade social (características do meio onde vive e das relações sociais) e vulnerabilidade institucional (políticas, programas e serviços de promoção, prevenção e cuidado à saúde em âmbitos local, regional e nacional).

Em um mesmo paciente, é comum que tais fatores se misturem numa relação complexa de causa e efeito com os problemas de saúde do indivíduo. O panorama, portanto, na maioria das vezes demanda um atendimento multidisciplinar que o Serviço Social, o Conselho Tutelar e outras instituições, programas e profissões foram criados para oferecer. Essa linha de raciocínio quebra com o paradigma do “médico paternalista”, em que este é considerado o único responsável pelo cuidado à saúde do paciente (GUSSO; LOPES e DIAS, 2019).


A medicina não é uma profissão em que se trabalha sozinho. 

Os fatores que influenciam o estado de saúde de um indivíduo sabiamente são provenientes de múltiplas áreas, portanto, é completamente natural que múltiplas áreas também possam ser necessárias para conferir resolutividade a um atendimento prestado.

O sentimento de impotência é natural, comum e válido; afinal, fazemos humildemente o que está ao nosso alcance – o que pode ser muito para um paciente e insuficiente para outro. Apesar do conteúdo emocionalmente desgastante e desafiador desse viés, ele pode ser minimizado pela prática de oferecer o serviço mais multidisciplinar e mais presente possível.

Na medicina, a única coisa que não vale é o paciente estar desamparado.


Equipe Editorial do Blog Integraliza.


REFERÊNCIAS


Ayres PJ, Pollock CT, Wilson A, Fox P, Tabner T, Hanney I. Practical public health in a primary care setting: Discrete projects confer discrete benefits but a long-term relationship is needed. J Manag Med. 1996; 10 (4): 36-48.


GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro; DIAS, Lêda. Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, formação e prática. [S. l.: s. n.], 2019.

 
 
 

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