Eu posso tudo sozinho, eu acho que posso, eu não sei se posso, eu não podia…
- integralizablog
- 22 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
O título, propositalmente gradativo, é um claro reflexo desse caso em questão. O caso que origina esse relato é progressivo e na data em que escrevo ainda está longe do fim, mas cada nova historia, cada nova descoberta é uma contribuição a mais para compreender porque tudo chegou onde chegou.
Conheci essa paciente numa manhã típica, pelo menos parecia ser até nosso primeiro encontro. Ela apresentava um quadro de descompensação psíquica e acompanhantes que muito falavam sobre ela, mas que pouco parecia que a ouviam. O excesso de informações externas impediam que ela falasse mas não impediam a mim e aos meus colegas de perceber que estávamos diante apenas da ponta de uma iceberg. Fizemos o que pudemos com o pouco tempo que tínhamos naquele dia, mas não deixamos de fazer o que mais importava para ela, buscar entender o motivo para aquele caso e nos debruçar sobre aquela história que estava apenas começando.
Nas consultas seguintes ouvimos familiares que a acompanhavam e cada vez mais parecíamos chegar um pouco mais perto de entender, porém nunca ficou tudo claro. Entretanto, no último encontro que tivemos algo me chamou bastante atenção. A paciente, agora muito mais estável, nos contou sobre crises de ansiedade que tivera recentemente, sobre seus gatilhos e o que fez para tentar evitar, mas de tudo aquilo uma fala dela martelou bastante na minha cabeça durante e após aquela conversa, a afirmação, sútil mas forte, de que ela entendeu do que se tratava aquilo: “Eu sempre achei que poderia resolver sozinha os meus problemas, cada um tem os seus. Mas acho que eu não conseguia resolver, eu guardava para mim e agora tudo está vindo de uma vez só.”
Eu já tinha ouvido alguém dizer aquilo, eu já tinha me ouvido falar aquilo! As palavras dela, e também minhas, ecoaram por um bom tempo na minha cabeça. Como que posso falar para ela não fazer isso se eu mesmo faço? Eu tentei, expliquei a importância de conversar e de falar sobre seus sentimentos, mas depois daquele dia acho que eu aprendi muito mais com ela do que o contrário. Eu entendi não o caso dela, mas temi um futuro meu. Tentei ajudar, mas, no fim, acredito que fui ajudado.
Anônimo
A importância dessa reflexão ao narrar um atendimento, é justo isso, proporcionar a percepção que somos todos iguais, não é a diferença de está no lugar de paciente ou de profissional que faz a diferença.
Ao assumir a responsabilidade de cuidador, exige de mim esse olhar e de cuidado de si, para poder melhor cuidar do outro, senão, além da ajuda não acontecer, ambos profissionais e pacientes saem desse encontro com a ajuda que precisam e poderiam ter. Quanto mais me observo, mas reconheço o que preciso mudar em mim. Essa é a premissa, é atribuído ao filósofo Sócrates (473 a.C.), a frase “conhece-te a ti mesmo, é, na verdade, a inscrição que estava na entrada do Oráculo de Delfos,…