Os batimentos de Heitor
- integralizablog
- 26 de jun. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 17 de dez. de 2021
Há algum tempo, eu transitei pelos dias. Sim, apenas transitei. Dia após dia cumpria tabela, sentia a passagem das horas, que ora me escorriam vorazmente pelos dedos, ora passavam tão lentamente que me angustiavam, causavam tédio. O fato é que, por descuido ou exaustão, banalizei o cotidiano, não enxerguei a essência das coisas e perdi a extraordinária capacidade de me encantar. Displicentemente, o tempo também seguiu seu curso e simplesmente consolidou sua passagem. O tempo não recua, é preciso despertar.
Foram os rápidos batimentos de Heitor que, quase como um estalar de dedos, me despertaram do meu estado de transe e apatia no dia 04 de julho. Aqueles batimentos fetais, os primeiros auscultados pelos meus ouvidos ainda leigos, me tomaram de emoção! Foi preciso conter o sorriso radiante e os olhos marejados, afinal é “dever” do estudante manter a pose de experiente, mesmo quando tudo que se vivencia na prática é absolutamente novo e encantador, carregado de singularidade. Como magia, os 160 batimentos rítmicos de Heitor, uma criança que talvez eu nem venha a conhecer, me fizeram lembrar que há, de fato, algo de extraordinário em todas as nossas experiências – basta, para tanto, que estejamos atentos aos sinais... Uma consulta a uma gestante, um simples momento, uma atividade aparentemente banal carregada de magia indescritível.
A expectativa da espera por algo extraordinário, traduzida nitidamente na face daquela mulher, me fez lembrar dos motivos que me conduziram até aqui: sigo sempre em busca daquilo que me cativa e que me aquece o coração, coisas e momentos esses a que, por definição, os chamo de “extraordinários”. São esses momentos que fazem desnecessário o recuo do tempo, pois, quando se atribui significado aos instantes, consolida-se a experiência, e não apenas transita-se perdidamente pelo tempo, desperdiçando-o.
A você, Heitor, desejo que a vida lhe seja doce e que haja sempre brilho em seus olhos. Mais ainda, desejo que, caso algum dia atinja o estado de desencanto, algo te desperte da apatia e te devolva o deslumbramento, da mesma forma que seus estranhos ruídos apressados fizeram por mim naquele breve momento – um único minuto que fora eternizado em minha memória. 160 batimentos. O minuto extraordinário. Serei eternamente grata!
Com carinho,
Clarissa
(uma das primeiras pessoas que se encantou por seu coração)
A leitura da sua experiência me levou a um estado de presença, a respirar o instante, a sentir o batimento do meu coração. Obrigada Clarissa!