Ouça meu silêncio
- integralizablog
- 22 de jan. de 2024
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Era uma sexta-feira, dia do meu primeiro atendimento na UBS. A professora fez suas orientações antes do atendimento, enfatizando a importância da escuta. Entregou o prontuário e a partir daí a responsabilidade era nossa.
A paciente entrou na sala triste e receosa, ela nunca havia visto o grupo que a atendera. Começamos então a fazer as perguntas de rotina, como o que a levara naquela UBS naquele dia. Começou então a conversar sobre o quadro depressivo dela, sobre o desmame do medicamento, sobre como se sentia, sobre como queria conversar e sobre como gostava de ir para os atendimentos porque os estudantes conversavam com ela. O tempo passava e ela escondia uma informação importante sobre gatilhos de seu estado depressivo.
Conversa vai, conversa vem, ela contou, ainda receosa, sobre sua relação ruim com sua filha, e principalmente com seu genro. Vítima de assédio sexual pelo seu próprio genro, ela buscava mostrar para sua filha o homem com quem ela dividia a vida. Infelizmente a filha não lhe deu ouvidos, e eu só pude sentir a angústia no coração dessa mãe que não tinha mais o que fazer. O grito silencioso de socorro ecoava o olhar desesperançoso daquela mãe. A filha sabia mas não queria enxergar, por quê?
Uma mistura de sentimentos tomou conta de mim, eu pude ouvir aquele grito silencioso, mas o que eu podia fazer? Até onde eu, como estudante, posso me envolver com os problemas dos pacientes? Senti que a paciente saiu mais leve do atendimento. Às vezes a gente só precisa de alguém para conversar.
Tassiana Lisboa Vieira da Silva.
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