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Por trás da máscara

  • integralizablog
  • 22 de jan. de 2023
  • 2 min de leitura

Em dezembro de 2021, eu e mais duas colegas estávamos aguardando a chegada de um paciente para mais um atendimento. Apenas seguindo um roteiro pré-estabelecido, como qualquer outra consulta. Até que chegou uma senhora, que gostava de ser chamada de Dona Ana, apesar de não ser o seu nome.

Dona Ana, já uma senhora, era muito ativa, tinha só uma queixa de dor no braço; mas ela ia além disso. Era uma mulher extremamente alegre, ria o tempo todo com a gente. Diria que trazia até um pouco de euforia. Ela, depois que soube que eu não era nascida no estado, me tranquilizou dizendo que ia passar e que ia valer a pena meu esforço. Começamos então a perguntar sobre a sua vida e então foi revelado um outro lado daquela mulher tão sorridente e feliz. Dona Ana nos contou que perdeu sua única filha, adotada por ela, para o tráfico, assassinada ainda jovem. Nos contou que fez de tudo até o momento que viu que não conseguiria intervir mais na vida da filha. Com a ajuda do esposo, foi seguindo seu caminho ainda com muita dor no coração.

Em um determinado momento, nossa professora entrou e iniciamos o relato de Dona Ana, que, fragilizada, começou a chorar. Foi a primeira vez que vi um paciente chorando. Nossa primeira reação foi de tentar acalmá-la, mas depois de um tempo percebi que ela precisava daquele choro. Depois, mais calma, Dona Ana foi embora nos agradecendo e voltou a sorrir como chegou.

Depois de um tempo, eu fiquei refletindo o quanto a medicina tenta nos moldar da maneira mais técnica possível, decorando roteiros, métodos, abordagens, quando, na realidade, com um só paciente e sua história de vida tudo isso desmorona em minutos de conversa. A complexidade de uma pessoa só é exposta quando nos permitimos a conhecer além da doença, do problema físico.

Queria que todo estudante de medicina tivesse a oportunidade de atender uma “Dona Ana” na vida. Quem sabe a humanização tão falada também durante o curso se tornasse uma técnica valorizada assim como as tantas outras vistas no caminho da graduação.


Analice Azevedo Barbosa Silva

 
 
 

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