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Somos a mesma essência

  • integralizablog
  • 24 de abr. de 2023
  • 2 min de leitura

O primeiro atendimento é sempre marcante na vida de todo profissional, sobretudo, quando a história da vida do acolhido, em muito, tem a ver com a história pessoal do profissional. Aconteceu no dia 04/02/2022, dia da avaliação da disciplina de Habilidades e Atitudes em Medicina, coincidentemente, foi a primeira vez que fiz o atendimento sozinho. As atividades da Universidade durante a pandemia da Covid-19 estavam sendo estressantes, muitas incertezas e ansiedade se apresentavam por todo o dia. Nessa ocasião, era comum lançar mão das técnicas de controle da ansiedade e estresse em meio as atividades curriculares, fato que me motivou a pesquisar sobre o assunto.

Na UBS, consultório organizado e material pronto, então chamei a paciente, Srª N.C.S. (Nair – fictício) de 47 anos, que após se acomodar, pedi que falasse um pouco sobre a sua pessoa. Então a D. Nair começou dizendo tinha feito alguns exames solicitados por outros profissionais e que gostaria de apresentar. Eu a deixei livre para falar e ela disse: “Eu estou me sentindo mal quando fico em frente ao espelho, sinto que estou pálida, sinto falta de ar, fico suando frio, sinto dores nos braços, um aperto no peito, o meu coração fica acelerado e acho que vou morrer”. A forma que ela se referia ao seu quadro de saúde dava para perceber que estava diante de uma pessoa em pleno estado de ansiedade, mas eu precisava conhecer, naquele momento, quem era aquela pessoa e não a sua doença.

Então, refiz delicadamente a pergunta dizendo que queria saber a sua história de vida e as situações que mais a impactavam na atualidade. Foi a partir do momento que a paciente passou a discorrer sobre a sua vida que senti claramente a importância do atendimento humanizado, e o valor de se estabelecer uma aliança terapêutica. Lembrei-me de quando aprendi sobre os aspectos psicodinâmicos da relação médico-paciente (os fenômenos da transferência e da contratransferência), e do valor terapêutico que o comportamento do profissional pode exercer em uma consulta. A esse exemplo, a teoria do “médico como uma droga” trabalhada pelo psicanalista Michael Balint, finalmente estava fazendo sentido na prática, e vinham à memória enquanto conduzia a anamnese.

Nessa dinâmica, o atendimento fluiu sem grandes dificuldades, D. Nair mostrou-se participativa, capaz e comprometida a construir juntamente comigo o seu plano terapêutico. Ao final do exame físico, percebi que a paciente se encontrava em uma fase da sua vida que demandava por mudança do seu estilo de vida. Apresentei uma abordagem educacional de prática de atividades físicas, reeducação alimentar, implementação de técnicas de controle da ansiedade e uma nova avaliação do seu estado de saúde após três meses. Para minha alegria, a professora concordou com a abordagem prescrita e ressaltou que “para uma saúde de melhor qualidade, os médicos precisam ser mais educadores e menos tratadores de doenças”.

Nesse dia, aprendi que é preciso acolher o paciente como um ser biopsicossocial e espiritual, respeitar a sua orientação, sua história pessoal e a sua personalidade. Que reconhecer-se no seu semelhante é um verdadeiro sinal de humanidade, sendo assim, compreendi que o médico deve valer-se da sua capacidade de desenvolver a empatia para estabelecer um relacionamento positivo e, assim, entregar o melhor de si em cada consulta.


Rufino de Souza Neto

 
 
 

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5 Comments


Aike Teixeira
Aike Teixeira
Feb 22

Esse é meu casca!

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robson.j.souza
May 07, 2023

Parabéns meu irmão, vc chegará muito longe, tenho certeza disso, e ajudará muita gente também…seu sonho é nosso sonho!!!

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Silvio Sobrinho Melo
Silvio Sobrinho Melo
May 06, 2023

Acredito em profissionais como o senhor Dr. Rufino. Precisamos de médicos como o senhor no SUS.

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bonyrogerlopes
May 06, 2023

Excelente análise do caso, isso demonstra que a UFS Lagarto continua em sua formação priorizando esse olhar não apenas para a patologia , mas para observação do ser humano como um todo.

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Marina Barros de Oliveira
Marina Barros de Oliveira
May 03, 2023

Texto de grande importância! O médico canadense o qual eu me inspiro citou que o bom médico cuida da doença mas o ótimo médico cuida do paciente que tem a doença. Ou seja, o protagonista não é o local onde está a dor e sim a pessoa por inteiro. Um ponto importante é saber diferenciar a doença do adoecimento. O paciente é um indivíduo que está inserido na sociedade, que tem família, alimentação, sentimentos, moradia, faz atividade física. Logo, acho necessário analisá-ló de maneira biopsicossocial e com empatia. Praticando assim, a integralidade!

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