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Esperança em fazer diferença

  • integralizablog
  • 14 de jan. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 15 de jun. de 2023

Depois de um ano e meio de pandemia, a UFS resolveu retomar as atividades práticas com um intensivão para pagar as horas pendentes do período remoto. Estávamos em trio, e era nossa quarta semana nas práticas sobre Saúde do Adulto em Habilidades Clínicas do 3º ciclo. Sempre muito empolgados com os atendimentos, afinal tinha muito tempo que não tínhamos práticas, além de que estávamos vivenciando nossas primeiras experiências com pacientes e não apenas com bonecos simuladores. Atendemos Patrícia, uma jovem de 30 e poucos anos, casada há 12 anos com um caminhoneiro. Meu colega começou fazendo a anamnese, e a paciente queixava-se de uma cefaleia holocraniana há cerca de 1 mês que não cedia ao uso de analgésicos, além de um histórico de migrânea há anos.

Sempre aprendemos a ter uma visão holística do paciente e não somente da doença. Na prática, explorar o paciente como um todo é difícil, principalmente quando se trata de estudantes com tão pouca experiência. Bate uma insegurança, e os pacientes não estão acostumados com essa postura vinda de “médicos”, acham estranho quando perguntamos sobre sua vida e não só sobre sua doença. Porém, resolvi arriscar! Questionei se essa dor de cabeça tinha relação com as viagens do marido, se piorava quando ele viajava ou quando ele chegava de viagem. Nesse momento, ela começou a desabafar, contou-nos dos vários episódios de violência doméstica, ameaças de vida e nos mostrou cicatrizes de mordidas do marido. Fiquei sem ação! Era a primeira vez que eu me via diante de uma paciente me dizendo algo tão íntimo. Ela nos contou que já denunciou o agressor e que já tentou se divorciar, mas sem sucesso. A filha, de 10 anos, sofria com as cenas de agressão, chegando a vomitar e apresentar diarreia decorrentes de crises de ansiedade.

No momento da consulta, a paciente recebeu uma ligação, era seu marido. Ela soube que ele estava chegando, e percebemos a aflição dela no restante da consulta. O interessante é que ela frequentava a UBS há anos com queixa de cefaleia, mas não havia nenhum registro de violência doméstica. Naquele instante, percebi o quão explorar o paciente é importante, pois de nada adianta tentar resolver a doença quando a causa está logo ali, coabitando a mesma casa. Encaminhamos a paciente para o serviço social e psicólogo.

Depois desse atendimento, fiquei pensativa por dias. Há um tempo atrás desenvolvi um Transtorno de Ansiedade Generalizada, além de sintomas depressivos. Na 3ºsemana de retorno às práticas, minhas crises de ansiedade aumentaram significativamente, e cheguei a pensar em desistir do curso, afinal a Medicina exige tanto da gente, eu não sabia se ia conseguir. Esse atendimento me mostrou que muitas pessoas encontram razões para viver em circunstâncias muito piores que as minhas. Ressurgiu em mim a esperança de fazer a diferença na vida de alguém. É por essa medicina que devo continuar, pois acredito que ainda irei ajudar muitas pessoas.


Autoria: Grazielle Oliveira


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