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Há uma criança dentro de nós

  • integralizablog
  • 26 de nov. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de jun. de 2023

Foi em 13 de setembro de 2021 que A.S de 47 anos foi à uma consulta médica na UBS do seu local de morada (Colônia 13) para realizar a entrega de exames a pedido de outro profissional. Enquanto isso, eu e mais dois colegas de classe éramos apenas três estudantes ansiosos com o atendimento que nunca havíamos realizado anteriormente, mas que estava prestes a acontecer. Diante de todo o nervosismo e medo, não imaginávamos que já nos surpreenderíamos tanto com uma paciente que, à princípio, parecia ser uma pessoa “comum”. Consideramos como sorte o fato de encontrar alguém que nos mostrou o quão complexo e sensível é o ser humano. Durante os relatos trazidos por nossa primeira paciente, pudemos perceber com o choro não planejado e a voz trêmula que o acolhimento, confiança e humanização podem simplesmente mudar o rumo de uma interação entre profissional-paciente. A mulher que nos trouxe vários papéis e laudos consigo carregava também a demonstração de que, mesmo tentando manter uma aparência de força e controle, temos uma criança dentro de nós mesmos - criança essa que gostaria de brincar e dançar, ser independente, ter a possibilidade de se divertir e demonstrar seus mais puros sentimentos quando necessário.

"A mulher que nos trouxe vários papéis e laudos consigo carregava também a demonstração de que, mesmo tentando manter uma aparência de força e controle, temos uma criança dentro de nós mesmos"

A.S sentia-se deprimida pois havia interrompido suas atividades laborais diante dos problemas de saúde, estes, por sinal, eram de grande incômodo e incapacitação. Seu quadro clínico contava com diversos problemas e morbidades: anemia ferropriva, fadiga, hematúria, litíase renal, obesidade, gastrite erosiva leve, hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, diabetes mellitus, sedentarismo e insuficiência em rim esquerdo. Pouco a pouco nos foi contado detalhes que nos mostrava o quão afetada estava sua saúde mental, não apenas por sua condição de saúde física, mas também por problemas dentro do seu próprio lar. A.S precisava prestar auxílio nos cuidados da sua neta, uma criança pequena que não tinha possibilidade de ser cuidada pela sua mãe (a filha de A.S) devido a depressão, havia também discussões com seu marido, preocupações com o filho e até mesmo com a alimentação da sua família. Haveria o que comer todos os dias durante aquela semana? A quantidade de refeições e o que seria fornecido sobre o prato daquela família dependia de amigos que forneciam cesta básica, da pequena renda da família e da própria sorte... Naquele momento pudemos perceber que não agradecemos por privilégios que se tornaram corriqueiros em nossas vidas. Deveríamos ser gratos todos os dias pelo alimento de cada dia, pela saúde que é a base da nossa sobrevivência e pela alegria que nos é concedida em pequenos detalhes da vida. Seu relato de alegria era bastante singelo, consistia em suas recordações de dançar com os amigos, momento este que trazia para ela grandes saudades e a esperança de que logo se recuperaria para poder dançar novamente. A.S nos fez refletir que os seres humanos não são comuns, cada qual traz suas histórias, medos e sonhos que os fazem únicos. Compreender esse detalhe pode mudar o dia de alguém, aliviando suas angústias aprisionadas dentro do peito e tranquilizando seus maiores pesadelos. Obrigada, A.S , por comparecer àquela consulta no dia em que estávamos ali e pela reflexão que nos provocou.


Autoria: Giovanna Teixeira



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1 Comment


Flavio Arcangelis
Flavio Arcangelis
Dec 05, 2021

Resiliência! Na física, de onde o termo foi forjado, significa a capacidade que um determinado corpo tem de, ao sofrer uma deformidade, retornar à sua forma original. Acho que da física pra vida essa capacidade não é igual para todos. Impressionante como nosso povo nos ensina o tempo todo! Afinal, quem de nós é mais resiliente? Pensemos sobre isso...

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