Sensibilidade
- integralizablog
- 22 de jan. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 15 de jun. de 2023
Então tinha chegado meu último dia no rodízio de Clínica Médica - Saúde do Adulto na disciplina de Habilidades Clínicas e Atitudes em Medicina II. Ter a oportunidade de, nos últimos meses, vivenciar semanalmente experiências que afloraram a necessidade de exercermos uma Medicina que promova saúde, previna doenças, tecnicamente assertiva e humanizada foi, sem dúvidas, desafiador e, por isso, instigante.
Logo nos separamos individualmente e iniciamos o último dia de atendimento. Uma mulher, meia idade, com encaminhamentos em mãos e uma grande quantidade de exames dentro de uma pasta amarela. “Em que posso ajudar?”. Tão logo, de forma bastante sucinta, explica que se tratava de um encaminhamento para a realização de um procedimento cirúrgico. Informou, também, que há muitos anos tenta realizar essa marcação, sem sucesso.
Durante boa parte da anamnese, falava somente o necessário. Até que, no intercurso da consulta, sua acompanhante adentra à sala de atendimento e passa, também, a participar da entrevista clínica. Não se tratavam de familiares, mas vizinhas. Quase que o oposto, extremamente expressiva, a acompanhante auxiliava na construção da história clínica da paciente que, nesse momento, aparentava estar ainda mais reclusa. Para além de sua causa orgânica, foi possível elucidar a existência de uma grave vulnerabilidade socioeconômica. A vizinha, sensibilizada com sua situação, a ajudava com o que podia. Percebi, nesse momento da consulta, ao olhar para a paciente, que seus olhos se encheram de lágrimas. Silêncio.
A paciente vive sozinha com seu filho de 11 anos, que apresenta problemas psiquiátricos. Dona de casa, suas condições de saúde a impediam de realizar atividades laborais. Condições de habitação também precárias. Aparentava sentir-se só, mesmo com o apoio de sua vizinha. Mostrou-se apresentar relações de grande distanciamento de seus irmãos e filhos mais velhos, que pouco a visitavam. Em sua linguagem corporal, passava a impressão de que já se encontrava desacreditada de que as coisas poderiam melhorar. Para além do cuidado curativo-biológico, nesses momentos, devemos possuir a sensibilidade de prestarmos o apoio necessário e orientarmos adequadamente essas situações.
Apenas exercendo a humanidade é que construímos a humanização.
O que seria apenas uma consulta para a realização de um encaminhamento, tornou-se também um momento de apoio imprescindível para as precárias condições sociais que a paciente se encontrava. Foi orientada quanto à busca de auxílio da assistente social da unidade e, também, encorajada a não desistir de buscar apoio.
Encerramos a última consulta do rodízio
Carlos Felipe Amado Abud
Infelizmente essa é uma realidade do nosso país. Confrontando com a diversidade dessas condições desumanas de qualidade de vida e a falta de humanidade das pessoas que deveriam apoia-la e ajudar nas diversas formas. A família precisa despertar nessa atitude de União e amor com todos sem dstinção.